Pesquisas recentes contrariam a ideia de que o reino vegetal não se manifesta. De fato, as plantas podem ser muito barulhentas quando estão sob pressão.
Outros organismos podem ter a capacidade de compreender essas sonoridades. Essa habilidade auditiva também pode contribuir para que os humanos melhorem sua inteligência sobre como cultivar suas safras, principalmente em um mundo onde as alterações climáticas nos trazem cada vez mais estresse.
Lilach Hadany, biólogo evolutivo e teórico da Universidade de Tel Aviv, afirma que, mesmo em um campo em que reina o silêncio, existem realmente sons que são inaudíveis ao nosso ouvido, mas portadores de informações.
Mesmo em um cenário calmo, existem sons por aí que não são detectados pelos nossos ouvidos, e essas vibrações guardam dados.
Acordo com o trabalho anunciado na revista Cell ontem por Hadany e sua equipe, as plantas de tomate e tabaco, especificamente, fazem sons de clique quando são desidratadas ou cortadas.
Os seres humanos não foram capazes de detectar os sons emitidos por tomates e plantas de tabaco devido à sua frequência elevada. Contudo, pesquisadores da Universidade de Tel Aviv conseguiram ouvir esses sons ao configurar microfones em uma estufa e em uma câmara acústica insonorizada. Estes cientistas puderam ouvir plantas saudáveis, secas e após suas hastes terem sido cortadas.
Descobriram que as plantas produzem sons regularmente, os quais ficam mais audíveis quando estão sob estresse. Os grupos de controle emitiram, de média, menos de um som por hora. Por outro lado, o corte de plantas de tomate e tabaco produziu cerca de 25 e 15 sons por hora, nessa respectiva ordem.
Os sons de estresse produzidos por plantas privadas de água foram percebidos por mais tempo. Eles começaram com um leve ruído nos primeiros dias de privação hídrica, atingindo um aumento antes de se suavizar quando o estresse se tornava mais intenso. Por isso, foi possível distinguir a diferença entre plantas com pouca água e as que estavam severamente desidratadas. Além disso, pesquisadores conseguiram programar uma inteligência artificial para discriminar entre plantas áridas, cortadas e saudáveis.
Ainda permanece desconhecido como exatamente as plantas produzem esses sons. Uma ideia é que eles sejam originados por bolhas de ar criadas e estourando dentro do sistema vascular. Por outro lado, isto é conhecido como cavitação e é visto em plantas em estado de seca.
É possível ouvir uma gravação dos sons da planta que os cientistas disponibilizaram na internet. Eles reduziram a frequência para que os seres humanos pudessem ouvir. A gravação faz um som semelhante ao de uma bolha de sabão estourando.
A pesquisa tem como foco os tomates e as plantas de tabaco, que são fáceis de cultivar e controlar em um laboratório. A equipe também gravou sons de outras espécies, como milho, trigo, cacto, e até mesmo das famosas uvas Cabernet Sauvignon usadas para vinificação, que produzem sons ao ficarem estressadas. O estudo sugere que muitas outras espécies também emitam som, e que são necessárias mais pesquisas para comprovar isso.
Pela primeira vez, os cientistas documentaram sons emitidos por plantas no ar, o que sugere que o som pode se propagar a distâncias consideráveis e pode ser captado por seres vivos. Embora não se saiba como ou por que as plantas produzem esses ruídos, não se pode afirmar que o objetivo é se comunicar. Contudo, é possível que animais e outras plantas obtenham dados relevantes a partir destes sons.
Ratos e traças são capazes de perceber o som de alta frequência emitido por tomates, por exemplo. Dado que certos tipos de traças colocam seus ovos em plantações de tomate, eles são capazes de ouvir e determinar qual plantação é mais adequada para dar uma maior chance de sobrevivência para seus filhotes. Além disso, outras espécies de plantas também foram encontradas para reagir ao som e podem começar a se preparar para um período de seca, por exemplo.
Os agricultores podem ajustar sensores para verificar se suas colheitas estão saudáveis ou necessitam de cuidados extras. Ao ouvir como as plantas estão se desidratando ou se estão próximas do limite, esse tipo de tecnologia pode ajudar os agricultores a plantar de forma mais produtiva.
A mudança climática está aumentando a intensidade de secas em muitos locais ao redor do mundo, e se espera que os rendimentos das culturas sejam afetados como resultado. A irrigação de precisão pode economizar até 50% do uso da água nas fazendas, ao mesmo tempo que produz colheitas maiores. Para ter certeza, muito mais estudos — diretamente nos campos, em vez de nos laboratórios — precisam ser realizados antes de que ela possa ser praticada de forma eficaz.
O artigo publicado ontem nos deixa com muito mais para descobrir. Segundo Hadany em um comunicado de imprensa, “também estamos examinando nossa aptidão de descobrir e entender os sons em cenários inteiramente naturais”. A equipe ainda está intrigada sobre como outras criaturas podem reagir ao ruído. “Agora que sabemos que as plantas produzem som, a pergunta a seguir é: ‘Quem está escutando?'”.