Os resultados de um novo estudo apontam que os produtos químicos tóxicos relacionados ao câncer e à doença cardíaca estão desproporcionalmente presentes em águas de bairros predominantemente negros e hispânicos nos Estados Unidos, indicando impactos ambientais que atacam comunidades de cor.

Per- e polifluoroalquil (PFAS), vulgarmente conhecidos por “produtos químicos persistentes” devido à sua grande resistência no meio ambiente, são contaminantes desenvolvidos a partir de materiais que têm alta resistência ao calor. Estes compostos são usados amplamente em indústrias aeroespaciais, de construção, automotiva e eletrônica. Estes contaminantes têm a perigosa capacidade de se infiltrar no solo e poluir fontes de água próximas a fábricas, assim como de se acumular em animais selvagens.

Um estudo recente da Harvard examinou mais de 7.000 locais nos 18 estados dos Estados Unidos, identificando, através de dados estatísticos, que as populações negras e hispânicas são expostas desproporcionalmente à poluição, visto que as fontes de poluição, como usinas industriais, aterros e bases militares, são frequentemente construídas perto dos bairros destas comunidades.

Essas substâncias são referidas como “produtos químicos persistentes” devido à sua longa vida no meio ambiente. Elas são extremamente nocivas.

Pesquisas mostraram que, com o surgimento de novas fábricas, postos de treinamento militar ou aeroportos na área, a concentração de ácido perfluorooctanoico na água potável pode aumentar até 108%, enquanto o ácido sulfônico perfluorooctano pode aumentar entre 20 e 34%. Esses tipos de produtos químicos podem permanecer na atmosfera por muito tempo.

Os impactos adversos das mudanças climáticas e da poluição química sobre as comunidades negras, hispânicas e nativas americanas nos EUA foram bem documentados. Uma análise do início de 2021 descobriu que essas comunidades foram desproporcionalmente expostas a níveis nocivos de arsênio e urânio na água potável. Em 2021, um estudo também mostrou que as minorias étnicas e raciais nos EUA estão mais vulneráveis aos efeitos da poluição do ar.

Exposições às PFAS são generalizadas nos EUA. O CDC descobriu que os produtos químicos estavam presentes no sangue de praticamente todos os participantes da pesquisa de saúde nacional. No entanto, ainda não se sabe ao certo o quão prejudiciais esses compostos podem ser em grandes quantidades. Estudos indicam que eles podem afetar o fígado, o sistema imunológico, elevar o colesterol, causar defeitos congênitos e desencadear cânceres renais ou testiculares. Ainda assim, os cientistas ainda estão examinando os efeitos a longo prazo que esses produtos químicos podem ter na saúde.

No mês de março, o EPA (Agência de Proteção Ambiental) anunciou propostas de novas regras para controlar as concentrações dos seis produtos químicos existentes na água potável. O administrador da EPA, Michael Regan, afirmou que esta ação tem o potencial de prevenir milhares de doenças relacionadas ao PFAS e marca um grande passo para proteger nossas comunidades de tais contaminantes. O regulamento deverá ser concluído até o final de 2023.

De acordo com as diretrizes da EPA, há um limite de quatro partes por trilhão para determinados produtos químicos encontrados na água potável. No entanto, o estudo da Universidade de Harvard sugere que cerca de 25% da população dos 18 estados pesquisados foram supridos com água potável contendo mais de cinco partes por trilhão. Isso significa que um quarto das pessoas nessas localidades estava sendo exposto a quantidades insalubres desse tipo de substância.

Os especialistas da Harvard afirmam que as novas regras da EPA devem levar em consideração os dados recentes sobre o impacto desigual dos produtos químicos nas minorias. “O princípio da justiça ambiental deve ser incluído nos próximos regulamentos para a PFAS em água potável”, disse Jahred Liddie, um estudante de doutorado em Ciências da Saúde da População da Harvard T.H. Chan School of Public Health e autor principal do estudo, em um comunicado de imprensa.

É amplamente relatado que há discriminação racial em áreas habitadas predominantemente por pessoas de cor.

Após o aumento de ações judiciais em relação à poluição ambiental causada por produtos químicos de longa duração, algumas empresas começaram a descontinuar o uso destes. Em 2022, a Califórnia acionou judicialmente a 3M e a DuPont por ameaçarem a saúde pública e comprometerem os recursos naturais. Além disso, a cidade de Baltimore e a Filadélfia também processaram ambas as empresas.

Após uma série de processos judiciais, a 3M divulgou que vai cessar a produção destas substâncias químicas até 2025, apesar de que ela gere aproximadamente US$ 1,3 bilhões em receita líquida de PFAS a cada ano. Entretanto, os setores da química ainda possuem muito que fazer para cessar o uso desses compostos. De acordo com um relatório do ChemSec, organização não governamental sueca, somente quatro das 54 empresas químicas analisadas possuem planos para desativar os perigosos químicos, incluindo os PFAS.

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