De acordo com Meta, o seu programa Trusted Partner é “essencial para os nossos esforços de melhoria de políticas, processos de implementação e produtos, com o objetivo de assegurar a segurança dos usuários nas nossas plataformas”. Porém, alguns de seus parceiros confiáveis apontam que a empresa negligencia sua iniciativa emblemática – deixando-a desprovida de recursos, com pouco staff e supostamente com alto risco de “falhas operacionais” como resultado.

Um relatório divulgado na quarta-feira pela mídia sem fins lucrativos Internews acusa o Facebook e o Instagram de não cumprirem seu programa Trusted Partner, que é composto por 465 grupos globais de sociedade civil e direitos humanos. O objetivo deste programa é proporcionar a esses grupos um meio para informar o Facebook e o Instagram de conteúdo perigoso ou prejudicial, como ameaças de morte, contas hackeadas ou incitação à violência. O Facebook e o Instagram prometem dar prioridade a esses relatos e tratá-los rapidamente.

Apesar disso, a Internews diz que algumas organizações membros experimentam o mesmo tratamento que os usuários comuns: eles esperam por meses uma resposta a um pedido, são desprezados devido a uma comunicação insatisfatória e impessoal. O relatório descreve que os tempos de resposta são irregulares, e em alguns casos, Meta não reage ou dá qualquer explicação. Isto se aplica ainda a publicações que exigem ação rápida, tais como ameaças graves e apelos à violência.

“Dois meses mais tarde e os nossos e-mails expressaram a necessidade urgente de agir, pois as pessoas estavam morrendo”, afirmou um parceiro de confiança anônimo. “A realidade política era muito delicada e exigia uma resposta imediata. Porém, passaram-se meses sem retorno”.

Dois meses a mais. E em nossas mensagens eletrônicas, declaramos que a necessidade é urgente, as vidas estão em perigo.

No relatório, a Internews agregou opiniões de 23 colaboradores de todas as regiões do mundo e também incluiu seus próprios feedbacks como parte do programa. A maior parte das organizações relatou experiências similares, exceto na Ucrânia, onde a capacidade de resposta foi acima da média. Os parceiros ucranianos podem esperar uma resposta em até 72 horas, enquanto na Etiópia, os relatórios sobre a Guerra de Tigray podem permanecer sem resposta por meses.

O relatório confirma vazamentos anteriores e relatórios a respeito das prioridades globais da META. É especialmente significativo fora da América do Norte e Europa, onde os usuários não têm a confiança de que o conteúdo seja monitorado por IA e milhares de moderadores humanos. Dois anos atrás, o ex-funcionário do Facebook, Frances Haugen, divulgou documentos internos que mostraram o pouco interesse da META pelo Sul global. Em países como Etiópia, Síria, Sri Lanka, Marrocos e Mianmar, Facebook e Instagram não conseguem impedir extremistas de estimular a violência. A ausência de parceiros confiáveis pode ser uma das causas desta falha.

Em Maio de 2023, cerca de 50 organizações de direitos humanos e tecnológicas assinaram uma carta aberta a Mark Zuckerberg e Nick Clegg, devido ao caso de Meareg Amare, professor tigrayano, que foi alvo de um ataque racista no Facebook e assassinado logo em seguida na Etiópia. Abrham, seu filho, tentou em vão convencer o Facebook a remover os posts. A carta dizia: “Não ter investido em melhorias de segurança adequadas no seu software ou não ter empregado moderadores de conteúdo suficientes, está alimentando o ódio e contribuindo para milhares de mortes na Etiópia”.

Rafiq Copeland, consultor de responsabilidade da plataforma na Internews e autor do relatório, declarou que os programas de flagger controlados são fundamentais para a segurança dos usuários, mas que os parceiros da Meta estão desapontados com a forma como o programa foi executado. Segundo Copeland, é preciso mais investimento para assegurar que as plataformas da Meta sejam seguras para os usuários. “As vidas das pessoas dependem disso”, acrescentou.

A Revisão foi concebida como uma colaboração entre a Meta e a Internews. Contudo, em 2022, a Meta retirou-se da parceria. A Meta declarou que “a pequena amostra de parceiros de confiança que contribuíram para o relatório não é suficiente para compor uma imagem completa ou precisa do programa”. A Internews informou que solicitou apoio à Meta no sentido de notificar seus parceiros da revisão, no entanto a Meta recusou a oferta.

Meta não revelou sua média de tempo de resposta esperada ou o número de colaboradores que trabalham no projeto em jornada integral. Um representante se recusou a fazer comentários sobre o relatório.

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